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segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Chá das Almas


SANTO DAIME

A DOUTRINA XAMÂNICA DA FLORESTA BRASILEIRA


texto : CEFLURIS

O movimento religioso do Santo Daime, começou no interior da Floresta Amazônica, nas primeiras décadas do século XX, com o neto de escravos Raimundo Irineu Serra, natural do Maranhão.

Ao Mestre Irineu, como passaria mais tarde à história, foi revelada uma doutrina de cunho cristão e eclético, reunindo tradições católicas, espíritas, esotéricas, caboclas e indígenas em torno do uso ritual do milenar chá conhecido pelos povos íncas como ayauasca ( vinho das almas ) e por ele denominado Santo Daime.

De uso bastante difundido entre povos indígenas da Amazônia Ocidental, a bebida é obtida pelo cozimento de duas plantas nativas da floresta tropical, o cipó Jagube ( banisteriopsis caapi ) e a folha rainha ( psicotria viridis ).

Tem propriedades enteogênicas, isto é, produz uma expansão de consciência responsável pela experiência de contato com a divindade, através do encontro interior com o nosso Eu Verdadeiro.

O Mestre Irineu recebeu os ensinos diretamente de Nossa Senhora Da Conceição, que lhe apareceu numa das primeiras vezes que tomou a bebida na região de Brasiléia, Acre.

Pouco depois, a Amazônia conheceu outros homens que, através da sabedoria revelada por estas “ Plantas Professoras “, criaram escolas e linhas espirituais ligadas às tradições ayuasqueiras. Tal como nos legou o Mestre Irineu, a doutrina traz uma nova ênfase nos ensinos cristãos e uma nova leitura dos Evangelhos à luz do sacramento enteogênico, para afirmar, nos tempos de hoje, os mesmos princípios de Amor, Caridade e Fraternidade.

O seringueiro e construtor de canoas Sebastião Mota de Melo, natural de Eurinepé, Amazonas, foi um homem simples de sólida convicção espírita e trabalhador incansável.

Discipulo do Mestre Irineu, dele recebeu o dom de trabalhar com o Santo Daime. Reuniu em torno de sí centenas de adeptos - não por proselitismo, mas de forma natural, como resultado da amizade e do respeito que ele conquistou, ao atender a todos que o procuravam em busca de um conforto para os males da alma e do corpo.

Retirou-se dos arredores do Rio Branco, Acre, onde havia fundado a comunidade religiosa conhecida como Colônia Cinco Mil, e levou parte de seu povo para uma área virgem no interior da floresta, denominada Rio do Ouro, onde trabalhavam a seringa e construiam casas, desenvolvendo também atividades agrícolas. Dois anos depois fundou o assentamento que se transformaria na atual Vila Céu do Mapiá, no município de Pauini, Amazonas.

A iniciativa cresceu sob sua liderança espiritual e seu exemplo de trabalho. Dirigia pessoalmente mutirões, acolhia pobres, doentes e necessitados. Em 1974 mandou registrar sua entidade, o Centro Eclético de Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra ( CEFLURIS ), com sede na cidade do Rio Branco, como um centro espírita estruturado sob a forma de sociedade religiosa sem fins lucrativos, responsável pela organização da Doutrina e pela feitura e distribuição da bebida sacramental utilizada nos rituais.

O Padrinho Sebastião, como era carinhosamente chamado por seus afilhados, faleceu em 20 de janeiro de 1990 no Rio de Janeiro, vítima de uma insuficiência cardíaca que o fez sofrer nos últimos anos. Além da viuva, senhora Rita Gregório de Melo, deixou aos filhos Alfredo e Waldete, respectivamente, como presidente e vice-presidente da instituição, a responsabilidade pela continuação de sua obra espiritual e da administração comunitária, feita a partir de uma associação de moradores, cuja diretoria é eleita periódicamente por seus sócios.

Atualmente a população da comunidade compreende cerca de 1.000 pessoas, entre a vila e pequenas colocações ao longo do Igarapé Mapiá.

Com o crescimento espontâneo registrado nas últimas duas décadas e os desafios sociais e institucionais decorrentes, a Doutrina se espalhou por diversas regiões do País e do Mundo.

O uso do Santo Daime como sacramento enteogênico em um trabalho espiritual de auto-conhecimento obedece a regras rituais recebidas por inspiração divina pelo Mestre Irineu e pelo Padrinho Sebastião. Não há uso indiscriminado pois como um sacramento, a bebida é sómente distribuida em datas que obedecem ao calendário religioso anual e dentro das regras preestabelecidas.

Os hinários são rituais festivos com cânticos de Louvor a Deus, à vida e as forças da natureza, onde a bebida sacramental é consagrada e comungada dentro de um templo, sob regras estritas de comportamento e organização, além da infra-estrutura de atendimento.

Outro ritual da doutrina é o Feitio da Bebida, também sob rigorosas regras doutrinárias, que orientam os mínimos detalhes, cercado do máximo respeito, silêncio e limpeza, num clima estritamente devocional. Este é um dos principais momentos do trabalho religioso e exige muia concentração, solidariedade, esforço físico e cuidados ecológicos. O produto final de todo esse processo é o Santo Daime.

Enquanto sacramento, ele é ministrado com toda a reverência nos momentos do culto. O Santo Daime não é comercializado em hipótese nenhuma. Os centros autorizados ministram os sacramentos conforme seus calendários.

A Doutrina do Santo Daime é uma prática religiosa cristã, ecumênica, que repudia toda forma de fanatismo, sectarismo, racismo e intolerância religiosa. Através de suas condutas os seguidores tem provado que a ingestão ritualistica do Santo Daime no contexto religioso, ao lado da prática social decorrente da doutrina, amplia nossa capacidade perceptiva, criativa, cognitiva e de discernimento, além de ajudar a assumir nossas responsabilidades pessoais e coletivas. Constitui-se, portanto, em um agente profilático e terapêutico a serviço da elevação da consciência do ser humano.

Amor - Paz e Luz !

Léo Artése


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