O que você esta procurando?

domingo, 26 de junho de 2011

Sincretismo Wicca


Sincretismo

Para os brasileiros, o sincretismo religioso é uma coisa bastante comum. Somos um povo acostumado a grande mistura de raças e culturas, que resulta na nossa. Um grande e visível exemplo desse sincretismo é a festa de Ano Novo: muitos vão à praia, vestidos de branco, com oferendas a Iemanjá - muitos nem são praticantes das religiões afro-brasileiras, mas o ato tornou-se tradição. Por que, então, falar de sincretismo na Bruxaria Italiana? Porque ele é tão presente lá quanto aqui.
Podemos entender o sincretismo como uma unificação de idéias e/ou doutrinas diversas; uma fusão de elementos culturais e/ou religiosos num só sistema, mas que mantém seus traços de origem. Isso na prática pode ser explorado no que é popularmente conhecido como mitologia greco-romana. Além dela, a "mistura" entre deuses e santos católicos que aconteceu em toda a península itálica - tal qual em toda Europa.
Na Idade Antiga, os romanos adotaram as culturas das terras que dominavam e/ou tinham contato. Para iniciar, houve a urgência de utilizar-se da cultura e religião clássicos - da Grécia. O panteão romano fez correspondências entre deuses gregos e seus próprios e adotaram alguns. Algumas correspondências ficaram mais elaboradas com tempo, como é o caso de Diana (explorada na coluna anterior). Deméter tornou-se Ceres, sua filha Perséfone, Prosérpina, entre muitos outros. As influências gregas foram mais além. Os romanos costumavam fazer suas cerimônias junto as arbores sacrae (árvores sagradas) - que continuaram de certa forma até hoje, na cidade de Benevento e sua nogueira; após o contato com a cultura clássica, os templos passaram a ser valorizados e, a medida do tempo, ficando mais e mais rebuscados.
Junto aos templos, algumas deidades estrangeiras foram adotadas e adoradas. Uma delas é Cibele. Mãe dos Deuses na Frigia, ela se fez presentes para gregos e, posteriormente, romanos em 204 AC. Ela era o símbolo da Natureza Selvagem, o contraponto de Ceres, a Natureza Cultivada. Era celebrada juntamente com seu amante Átis, que morre e retorna na primavera. Uma grande liturgia era feita em homenagem a Cibele e Átis de 15 a 27 de março. Outra deusa estrangeira de enorme expressão na cultura romana foi Isis, deusa símbolo da Força e da Purificação. Templos foram erguidos em sua homenagem, ela foi adotada por autoridades e classes mais abastadas na era do Império. Seus ritos eram feitos com fogo e água do Nilo; tinham uma marcante característica hermética sustentada por uma escola iniciática.
Por fim, as entidades etruscas e seus ritos foram conhecidos e incorporados. Eram conhecidos por seus desenvolvidos ritos de morte e culto aos mortos; essa faceta dos etruscos foi trazida e está presente no que fora conhecido na Idade Média como "Culto dos Mortos". Além dos ritos de morte, algumas deidades foram levadas para culto ou associação romana - e posteriormente de todo povo itálico - como Losna, Umbrea e Nox (deusas da Lua, do Mundo das Sombras e da Noite, respectivamente: adotando as faces de Diana, Perséfone e Hécate).
Na Idade Média aconteceu uma segunda grande "onda de sincretismo" promovida pela Santa Inquisição. Correndo o risco de perderem seus caminhos e vidas, muitas streghe se esconderam sob o véu do catolicismo. Encontraram uma forma de mesclar seus conhecimentos sem o risco de não seguir a ordem vigente. Elementos herméticos foram introduzidos juntamente com a utilização da "Chave de Salomão" por alguns clãs. Claro que alguns se recusaram a fazer esta mistura e se extinguiram por completo.
Hoje em dia, esse sincretismo é muito concreto: na Itália e no Brasil. Existem diversas tradições (como os benzimentos feitos pelas nonas católicas de muitos de nós) e relações feitas entre os deuses pagãos e os santos, notoriamente com a Virgem Maria. Existe uma imagem de uma Madonna sobre uma lua crescente, chamada Madonna della Luna, de Alberto Dubrec. Há também registros em livros de um secto de streghe que adora a Madonna Oriente, a Mãe do Leste. Além dessas há a história da Madonna del Soccorso. Adorada na cidade de Sciacca, lhe são atribuídas várias curas e seu festival acontece no dia 1 e 2 de fevereiro (data do Imbolc ou Festa di Lupercus, segundo a Stegheria), havendo uma missa e uma procissão com a estatua da santa. O mais curioso dessa história é a imagem dela: ela segura seu filho (a criança da Luz nascida no inverno) em um braço e um bastão de madeira no outro - com o qual ela afastou o mal. Mais que isso, a santa foi dada como padroeira de Sciacca no dia 15 de agosto - data da lua cheia nos antigos calendários e o Ferragosto, comemorando Maria, a Stella Mare.
Ainda, alguns grupos de bruxas afirmam seguir os caminhos antigos e são católicos. Na verdade, quando entramos a casa de uma família italiana ou de descendentes que mantém as características ancestrais, podemos ver, na maioria das vezes, um desfile de imagens católicas. Elas são fonte de um sincretismo antigo e uma forma de cultuar a fé. Expressões cristãs ou pagãs, elas cumprem seu papel de canal entre o mundano e o divino e são grandemente comuns em nosso meio. Acredito que é importante conhecermos a estória da imagem e pesquisar suas origens e associações. São lições de História, de Antropologia e de Magia Ancestral!
Pietra D C Luna

Nenhum comentário:

Postar um comentário

rotativo